Nosso Conteúdo

Artigos

Voltar

Fraternização da democracia

por Alexandre Aragão em 5/24/2021

Fraternização da democracia

O século XX gerou, com fortes dores de parto, as condições materiais para a construção de uma nova compreensão das relações entre os seres humanos. Antes existiam os Estados nacionais, cada um procurando agir de forma a defender os próprios interesses, independentemente se as conseqüências desses propósitos seriam danosas ao resto do mundo. E no interior desses Estados, a mesma cultura individualista sobrepunha o interesse pessoal acima do bem social.

Diante do progresso telemático e das relações econômicas globais, a partir do 11 de setembro - dia oficial para uma nova e responsável reflexão global sobre o futuro planetário - a humanidade comprovou uma verdade: de formar uma única aldeia, na qual ações nacionais têm interferência on-line em todo o resto do mundo, levando-a a conclusão que a Comunidade Humana hoje é a primeira atribuição fundamental de cada ser humano. Hoje não existe mais o resto do mundo. Nas palavras de Palumbieri, "a lição do século vinte é que para termos um futuro mais humano é preciso passar pela aceitação do trinômio: liberdade, igualdade, fraternidade. Este trinômio deve ser purificado das ideologias e deve ser levado a escutar o homem, descoberto como co-humanidade. O elemento básico do trinômio, no plano da garantia vital, é a fraternidade".

Como formamos uma única comunidade humana, tem sentido então falar e construir o bem comum da humanidade inteira. Que elementos elencar para ajudar-nos nesta reflexão-ação? Neste texto dedico-me apenas a indicar dois elementos.

Em primeiro lugar devemos compreender em maior profundidade a verdadeira vocação política, que é uma resposta a um chamado que a fraternidade faz ao agente político. A ação política, de fato, inicia e aprofunda-se a partir do desejo de satisfazer uma necessidade social, um problema da cidade, atender uma categoria social fragilizada que solicita auxílio. De fato, como afirma Antônio Baggio, "a ação política nasce por um ato de amor ao amigo, não pelo ódio a um adversário".

Em segundo lugar, o agente político da fraternidade deve possuir uma opção clara e bem definida: a fraternidade como método. Ou seja, ainda no dizer de Baggio, "no outro reconheço uma vocação idêntica à minha, vivenciada a seu modo, que devo portanto aprender a respeitá-lo, conhecê-lo, ajudá-lo, porque somente posso atingir o meu desígnio simultaneamente com os outros".

Por isso, "o outro na política não é um inimigo; ele pode até tornar-se, se assim o quisermos, mas, antes de tudo e essencialmente, é aquele de quem preciso, pois a minha idéia somente pode concretizar-se juntamente com a sua. A política não é um investimento que lucra com a existência da inevitabilidade dos conflitos; os conflitos existem "e a política deve necessariamente encará-los - , mas antes disto, é a fraternidade que exige a organização política. Este é um importante princípio de filosofia da história, que comanda as ações autenticamente políticas: o bem é somente produto do bem. O mal não colabora em nada com o propósito da política, a não ser pelo efeito de suscitar naqueles políticos autênticos e generosos - em reação ao mal - uma vontade de fazer um bem ainda maior" (idem).

Fraternizar a democracia para ser a palavra-de-ordem do nosso século. Somente com a compreensão de que somos membros de uma mesma humanidade, poderemos somar todos os esforços na busca de soluções para os males que afligem nossa comunidade mundial, nacional e local, a partir dos irmãos marginalizados, privados da cidadania civil.

Alexandre Aragão é arte-educador, micro-empresário e membro do Movimento da Unidade na Política.