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Gandhi, o político

por Alexandre Aragão em 5/24/2021

Gandhi, o político

Muitos de nós estão acostumados a pensar em Gandhi - a grande Alma - apenas como um importante líder espiritual indiano. Porém, justamente por possuir uma grande alma, ele é, possivelmente, o maior político do século XX: "Entrei na política por amor à vida dos fracos: morei com os pobres, recebi os párias como hóspedes, lutei para que tivessem direitos políticos iguais aos nossos, desafiei os reis, esqueci-me das vezes que estive preso".

Talvez fosse interessante, mesmo se em poucas palavras, conhecer um pouco do pensamento e da ação política desta personalidade mundial, e colhermos algumas luzes em função do processo político brasileiro atual.

Gandhi definia que a lei de ouro "é ser amigo do mundo e considerar uma só toda a família humana", compreendendo que sua missão não se limitava a construir a fraternidade indiana, mas colaborar concretamente na construção da fraternização entre todos os homens.

Por mais de 20 anos trabalhou na África do Sul, como advogado, defendendo os imigrante indianos, vítimas da segregação racial. Exatamente neste período, no início do século XX, entrou em contato com os ideais anunciados pelo escritor russo Leon Tolstoi. De Tolstoi ele colheu a essência da mensagem de Jesus nas bem-aventuranças, na recusa a toda violência, na veneração aos pobres e no compromisso com a vida simples. A partir dessas idéias, Gandhi, profundamente impressionado, formulou sua própria visão de "não-violência ativa" e de atuação política como amor pelo povo.

Quando retornou à Índia, dedicou-se a organizar o povo contra a dominação inglesa. Começou conscientizando os indianos a retornar à tradição de tecer as próprias vestimentas em casa, com teares domiciliares e manuais, acarretando como conseqüência o boicote aos tecidos ingleses.

A crença na força da verdade levou-o à não violência ativa, que significa não cruzar os braços, mas usar todos os meios pacíficos para alcançar os objetivos almejados. Importa que os meios e os fins tenham a mesma natureza: fins bons demandam meios bons. Por isso convocou o povo, várias vezes, para a desobediência civil. Famosa foi a "Marcha para o Mar", mobilizando milhares de indianos que caminharam em direção ao mar para dele extrair o sal de que precisavam, num boicote ao sal monopolizado pelos colonizadores ingleses. Foi preso, mas conseguiu a liberação completa do sal.

Sempre que havia um impasse político maior, Gandhi punha-se em prece e em jejum por semanas inteiras, convocando as multidões a praticar o mesmo. Com este gesto fazia tremer o império britânico e demovia as forças contrárias.

No dia 15 de agosto de 1947, a Índia, graças à ação política, pacífica e ativa de Gandhi, conquistou a independência da dominação inglesa.

Sem dúvida, são muitos os elementos que poderíamos destacar de tão iluminada pessoa e de tão comprometido engajamento político como ato de fraternidade, de mobilização social e de não-violência ativa.

Nesses tempos de extrema carência de ideais, de falta de rumo e de motivação de populações inteiras, de imposição da ideologia excludente materialista econômica neoliberal através da mídia global, o exemplo de vida de Gandhi, com o seu pensamento político-espiritual, poderão ajudar-nos bastante a compreender a extrema ligação entre a vivência de uma espiritualidade e o compromisso amoroso pela humanidade através da ação política para a construção do bem comum.

Precisamos desenvolver nossa sensibilidade espiritual, adubando-a dia após dia, para podermos compreender em profundidade os passos que precisamos dar, sem ódio e sem medo, na construção de um novo paradigma político para a realização da fraternidade de toda Humanidade.

Alexandre Aragão é membro do Movimento da Unidade Autor(es)

Alexandre Aragão