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O paradoxo ambiental

por Washington Novaes em 5/24/2021

O paradoxo ambiental

Já há algum tempo se repete um paradoxo em foros internacionais que discutem as chamadas questões ambientais. De um lado, os ditos ambientalistas (como se alguém pudesse não sê-lo), vistos pelos demais como sonhadores, irrealistas, utópicos; do outro, os ditos realistas, que teriam pés no chão, fundados em verdades científicas. Curiosamente, entretanto, são os primeiros que apresentam números sobre a devastação, a insustentabilidade, a necessidade de novos padrões de consumo - enquanto os outros confiam em novas tecnologias que trarão soluções mágicas e permitirão expandir indefinidamente o consumo e modelos já insustentáveis.

Na recente reunião das partes da Convenção da Diversidade Biológica, na Holanda, embora não tenha sido apenas isso, o quadro de certa forma se repetiu, com um confronto entre essas visões.

De que mundo se está falando quando se trata de biodiversidade?

Se dermos crédito ao "papa" dessa área, o entomólogo norte-americano Edward O. Wilson, em seu recém-publicado livro O Futuro da Vida (Editora Campus), "no final de 2001 a natureza está desaparecendo diante dos nossos olhos, retalhada, esmagada, arrasada, substituída por artefatos humanos (…).

Estamos à beira de um apocalipse (…). Nossa única esperança é saber gerenciar com parcimônia os recursos que nos restam".

Isso exigirá, entretanto, mudanças profundas. Wilson lembra que hoje são necessários em média, no mundo, 2,1 hectares de terras e águas produtivas por pessoa, para atender a nossas necessidades de alimentos, habitação, energia, transporte, comércio, eliminação de resíduos. Nos Estados Unidos, no entanto, essa média sobe para 9,6 hectares por pessoa, enquanto nos chamados países em desenvolvimento não passa de 1,6 hectare. Se o padrão de consumo fosse igualado para todos os habitantes da Terra, precisaríamos de quatro planetas como este, diz ele - na mesma linha do Living Planet Report 2001 (Pnuma-WWF), já citado aqui.

Se a economia mundial crescer a 3% ao ano até 2050, lembra Wilson, o produto interno bruto mundial passará dos US$ 31 trilhões de hoje para US$ 138 trilhões - e isso não seria viável, não haveria recursos para tanto, nem seria suportável o nível de degradação e poluição. É urgente implantar outra visão. "Talvez tenha chegado a hora de parar de chamá-la de ambientalista", sugere ele.

Uma das curiosas possibilidades com que exemplifica é a de renunciar ao consumo de carne: "Se todos aceitassem uma dieta vegetariana, o atual 1,4 bilhão de hectares de terras aráveis seria suficiente para produzir alimentos para 10 bilhões de pessoas" (a previsão para 2050 está em entre 8 bilhões e 9 bilhões). Difícil e complicado, mas lógico.

Se não for por caminhos de redução do consumo, "no ritmo atual um quinto das espécies de plantas e animais estará extinto ou fadado à extinção em 2030 e metade até o final do século 21. (…) O homem está hoje desempenhando o papel de um assassino planetário, preocupado apenas com sua sobrevivência a curto prazo".

Palavras muito fortes. Mas Wilson acha, por exemplo, que preservar apenas 10% das florestas tropicais, a amazônica aí incluída, é pouco: a floresta não se salvaria. E a conservação de florestas foi exatamente o tema mais polêmico da reunião da Holanda, com os "ambientalistas" exigindo moratória imediata no corte de florestas primárias e os países detentores destas - Brasil incluído, ao lado da Malásia e outros aliados - argumentando que é preciso pensar também em uso sustentável, exploração econômica adequada.

Além do mais, seria preciso que os países mais ricos - que são os maiores consumidores das madeiras - aceitassem discutir também sua responsabilidade, contribuíssem com recursos financeiros para as soluções.

Ao final, aprovaram-se 131 medidas e recomendações, sem sanções para o não-cumprimento - o que os "ambientalistas" consideram pouco. Já os diplomatas e outros negocia Autor(es)

Washington Novaes