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Para Educar melhor

por CARLOS ALBERTO MONTANER em 5/14/2021

Para Educar melhor

CARLOS ALBERTO MONTANER

Ana Botella, mulher de José Maria Aznar, primeiro-ministro da Espanha, mergulhou de cabeça no problema mais importante do ensino: fomentar a capacidade de leitura das crianças, estimular entre elas o debate sobre os valores morais e dotá-las de capacidade de expressão. Para atingir esses fins ela editou um livro com cem contos clássicos, cuidadosamente analisados. A obra chama-se Érase una Vez: los Mejores Cuentos Infantiles Comentados (Era uma Vez: os Melhores Contos Infantis Comentados) e no seu índice se encontram praticamente todas as histórias que conhecemos na infância, desde Barba Azul, dos irmãos Grimm, até O Príncipe Feliz, de Oscar Wilde, passando por A Vendedora de Fósforos, de Hans Christian Andersen.

Naturalmente, há autores espanhóis, como Alejandro Casona, Fernán Caballero ou Samaniego.

Seu objetivo é que um adulto, com paciência e afeto - os pais ou os avós são os ideais -, se sente com a criança e leia a narrativa, ou ouça a leitura da criança, se esta já souber ler. Para isso há indicações de tom e modulação da voz, como nos roteiros teatrais. Por exemplo, "leia simulando surpresa" ou "diga isso com energia". O propósito é não só aprimorar a capacidade de leitura, mas também a de comunicação oral. Trata-se de recuperar uma arte que foi sendo perdida no ensino, talvez por falta de tempo: a récita. Essa perda tem conseqüências muito negativas para os jovens, porque não há traço que defina melhor a personalidade do que a habilidade expressiva. Quem é capaz de se expressar com desenvoltura e transmitir seus pontos de vista clara e eloqüentemente projeta uma personalidade atraente, absolutamente conveniente em qualquer transação humana: desde conquistar outra criatura, para roubar-lhe um beijo, até conseguir um emprego melhor.

O assunto é, portanto, muito sério. Uma das poucas certezas que existem no terreno da psicologia é a da correspondência milimétrica entre o nível do vocabulário e o quociente de inteligência. Uma hipótese propõe que as crianças naturalmente mais inteligentes têm um vocabulário maior e dominam estruturas sintáticas mais complexas, mas o contrário parece mais provável: as crianças que adquirem um vocabulário mais amplo e são expostas a conversas de certa envergadura desenvolvem um nível mais alto de inteligência. E o que supostamente prova a segunda hipótese é o resultado de medições feitas entre filhos únicos: a média costuma ser maior. Por quê?

Porque, ao se relacionarem constantemente com adultos, essas crianças aprendem palavras e modos de comunicação mais elaborados, o que lhes potencializa o desenvolvimento da inteligência.

Se os psicólogos conhecem, sem a menor dúvida, a relação entre domínio da língua e inteligência, os pedagogos também sabem algo fundamental: é possível ensinar valores. A justiça, a compaixão, a bondade, a tolerância ou a submissão às regras são valores que se aprendem. Como também se aprendem os antivalores: a injustiça, a crueldade, a maldade, a intolerância ou o desprezo pelas normas. É possível aprender uns e outros de forma imperfeita, espontaneamente, por observação e imitação, de maneira acrítica, ou se pode chegar a eles mediante a análise racional de situações concretas. Esta última é a forma aconselhável: formar moralmente as crianças para que desenvolvam comportamentos que contribuam para sua própria adaptação à sociedade e para sua felicidade individual. É óbvio que sempre haverá pessoas incapazes de distinguir o bem do mal ou, o que é mais grave, quem não se importe com a diferença entre um e outro. Mas esse tipo de psicopata constitui uma ínfima minoria, com a qual é preciso conviver até que seus atos o levem à prisão ou ao manicômio, de acordo com o grau de alienação de que padece.

Por outro lado, essa intensa educação moral, exatamente como se dá no caso do aprendizado da lei