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Porque voa a grande águia

por JOÃO MELLÃO NETO em 5/14/2021

Porque voa a grande águia

JOÃO MELLÃO NETO

Em 1776, na cidade da Filadélfia - sede do Império Britânico de ultramar -, no dia 4 de julho, representantes das 13 colônias inglesas assinaram a sua declaração de independência. Há apenas 225 anos nascia, assim, aquela que viria ser a mais pujante e poderosa nação jamais erguida sobre a face da Terra.

Nada havia, àquela época, que prenunciasse tal futuro. Com menos de 2 milhões de habitantes, espalhados por um território diminuto, os Estados Unidos eram, sem dúvida, os primos pobres da América. Mais ao sul reluziam os vice-reinados do México, do Peru, do Rio da Prata e de Nova Granada, de onde era extraída toda a prata que enriquecia a Coroa espanhola e os opulentos mineradores locais. Havia também uma imensa e afluente colônia portuguesa cuja abundância em ouro e diamantes nunca fora igualada.

As cidades norte-americanas eram rústicas e modestas. Em nada se comparavam às concentrações urbanas de Lima, Cidade do México, Bogotá, Caracas, Buenos Aires ou Vila Rica. Sem metais nem pedras preciosas, a nova nação ainda era prejudicada pelo fato de se encontrar na mesma latitude que a Europa. Não lhe era possível plantar cana-de-açúcar, frutas nem nenhum outro produto agrícola exportável que lhe servisse de moeda de troca com o velho continente. Os EUA estavam condenados ao isolamento. E seu povo, na verdade, preferia que fosse assim…

A roda da História iria girar a seu favor. A menos de um século de sua fundação, os EUA já se apresentavam como uma das cinco maiores potências econômicas do mundo. Aproveitaram, e bem, a maré da primeira revolução industrial, copiando, adaptando e reproduzindo, domesticamente, as novas tecnologias e modos de produção.

Na virada do século 20, a nação norte-americana já era a maior potência econômica do planeta. O advento da eletricidade desencadeara uma segunda revolução industrial. Novas e radicais tecnologias se impunham. Os ingleses não souberam adaptar-se e declinaram. Os EUA, ao contrário, foram os primeiros a compreender o processo, reestruturar-se e tirar o máximo proveito dele. Nascia o assim chamado "século americano". No seu transcorrer, os norte-americanos assumiriam a liderança tecnológica - antes dos alemães - e a liderança militar, que compartilhavam com a União Soviética.

Não foram poucos os que, através dos anos, previram o pouso final da grande águia americana. Mas o que ocorre, na verdade, é que ela intenta vôos cada vez mais altos. Os primos pobres da América são agora os líderes incontestes do mundo. Nós os amamos, nós os odiamos; nós os criticamos, nós os invejamos; nós os desprezamos, nós os imitamos. E nunca nos preocupamos, de fato, em entendê-los.

Enquanto os americanos comemoram a sua "Semana da Pátria", nós, por aqui, bem que poderíamos deixar de lado o nosso falso desdém e fazer um esforço para tentar decifrá-los.

Não existe efeito sem causa. Façamos uma "engenharia reversa" na águia.