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Entrevista - Theotonio Negrão O homem, seus livros, suas idéias

Entrevista - Theotonio Negrão O homem, seus livros, suas idéias

"O justo é a advocacia" Theotonio Negrão

Theotonio Negrão é presença certa na biblioteca de qualquer operador do Direito. Seu Código de Processo Civil já chegou às 32 edições, enquanto seu Código Civil encontra-se na 20ª. Isso sem falar no famoso "tijolão", o Dicionário da Legislação Federal, que criou em 1960. Mesmo desfrutando de tamanho prestígio, ele insiste que qualquer um poderia ter escrito os seus livros. Modéstia, misturada a uma certa dose de timidez. Theotonio é, por natureza e escolha, um homem discreto.

Em sua trajetória, figuram cargos como o de juiz do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, curador de vínculo dativo e presidente da Associação dos Advogados de São Paulo. Antes de tudo, porém, é advogado. Aos 84 anos, soma mais de 60 na profissão. Entre outras missões relevantes, tem causas herdadas do saudoso professor Noé Azevedo, com quem começou a trabalhar, quando estava no terceiro ano de Direito, na São Francisco.

Avesso a entrevistas e com a saúde debilitada, esse paulista, de Piraju, ofereceu certa resistência à entrevista solicitada pelo Jornal do Advogado. A espera contribuiu para aguçar a curiosidade e aumentar a honra de ter a sua atenção. O resultado não poderia ser melhor. Doutor Theotônio nos brindou com uma conversa inteligente e cordial, num encontro comovente, em seu escritório da Rua Riachuelo, centro de São Paulo. Afinal, como ele mesmo fez questão de frisar, "uma entrevista deve ser dada com a cabeça e com o coração".

Jornal do Advogado - Seus códigos são tão tradicionais, que é comum as pessoas pedirem "um Theotonio" nas livrarias. Como o senhor começou a escrever?

Theotonio Negrão - Foi por acaso, como quase tudo em minha vida. Estudei Direito por acaso - meu pai queria. Caseie-me, porque não agüentava a comida da pensão. E assim também foi com os livros. Tive um cunhado, já falecido, que era Diretor do Ensino Secundário. Ele fez uma campanha de material de ensino, com uma porção de dicionários, e sugeriu que eu escrevesse um livro de Direito usual para os estudantes das escolas de comércio. Então, tive a idéia de catalogar todas as leis federais em vigor naquela data - eram cerca de 60 mil - e fiz o Dicionário de Legislação Federal, com 1.600 páginas. Até hoje, alguns itens dele não estão defasados.

E como foi o "acaso" dos códigos?

  • Quando surgiu o Código de Processo, eu li e não gostei. Mas, não podia não gostar do Código, porque era meu material de trabalho. Então, resolvi vencer minha repugnâcia e estudá-lo. Foi assim que saiu meu Código de Processo Civil anotado. Daí, não parou mais.

  • Habituei-me com a idéia e senti que, pela utilidade, os códigos anotados eram muito interessantes. Costumo citar John Wesley, fundador da Igreja Metodista: "A coisa mais importante que faz um homem é ser útil". E eu procuro ser útil. Vejo que muita gente escreve livros de Direito pelo prazer de mostrar quanto sabe. Escrevo os meus para ajudar as pessoas. Certa vez,disse para meu amigo Álvaro Malheiros: vou escrever um livro de Direito, que seja como o Guia Quatro Rodas. Quando a pessoa viaja, compra a última edição do Guia. Quero que comprem a última edição do meu código com o mesmo pensamento. De certa forma, isso aconteceu e me realiza muito. Mas não é um mérito.Qualquer pessoa poderia ter feito.

O senhor já está trabalhando numa nova versão de seu Código anotado, a partir do novo Código Civil?

  • Estou à espera da promulgação do Código para completar meu trabalho sobre ele. Será um simples índice minucioso, com algumas notas de rodapé, que facilitarão a pesquisa.

Qual a sua avaliação do novo Código Civil?

  • Acho um trabalho excelente e abrangente. Os que criticam o novo Código não o leram. Um ou outro texto pode estar ultrapassado. Mas, em linhas gerais, está muito atualizado. Não apenas n Autor(es)

Gaudêncio Torquato e Solange A. Barreira Academus

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