A última chamada
CARLOS AURELIO MOTA DE SOUZA
Deus, sábio insondável e infinito, recolheu em sua Escola, num gesto onipotente, uma classe inteira de estudantes. 59 moços vão aprender com o incomparável Mestre as ciências mais desconhecidas, as artes mais estranhas, que na terra jamais imaginaram estudar. Para o próprio Pai foi árdua a escolha: convocar filhos da mesma idade, frutos da mesma terra, aspirando ideais comuns, almas irmãs que afinavam seus instrumentos pela tonalidade pura de seus corações, e que marchavam, passos unidos e cadenciados, sempre para o Alto. Aqui, os bancos estão vazios. Ausentes. Definitiva e dolorosamente. Os mestres não ousam pronunciar seus nomes: a emoção não distingue entre os vivos e os mortos. Às vezes, os que ficaram também vão, em memória, em sentimento, coração arrancado ao peito, velar saudosamente pelos colegas. As carteiras solitárias semelham lápides brancas, mudas, que guardam, pacientes, lembranças vivas de seu dono. Na sala, o silêncio dos que não falam mais, é como a solidão das lousas que agora os cobrem. Silêncio frio, mas inquietante, presença incómoda de almas vivas, de espíritos atentos, de vozes que respondem, de corações que palpitam, de clarins e tambores que tocam e rufam, ainda apegados à vida… Nunca a colheita de Deus foi tão preciosa! Com os moços segue também a dor profunda de pais inconsoláveis, a tristeza pungente de uma cidade bela, o luto no coração dos estudantes. Os professores tentam, num esforço, inútil, fazer a ultima chamada, e reconstituir uma realidade impossível: Ausentes! E lá no Alto, Deus os recebe e faz a Sua chamada: Presentes! Estamos aqui Senhor! (Transcrito de "A Tribuna" de Nova Granada)…