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Gangrena

por 2001. em 5/12/2021

Gangrena

Aqueles que conhecem a nossa história parlamentar, do Primeiro Reinado à Regência, do Segundo Reinado à República, sabem que pelo antigo Palácio do Conde dos Arcos, pelo Monroe e, por fim, pelo Senado em Brasília, passaram muitos dos mais respeitáveis homens públicos da Nação, de José Bonifácio a Feijó e Vasconcelos, de Honório Hermeto, Alves Branco, Euzébio, Ferraz, Uruguai, a Zacarias, Nabuco, Rio Branco, Silveira Martins, Dantas, de Saraiva, Lafayette, Cotegipe, João Alfredo, Caxias, Osório, Câmara, a Rui Barbosa, Pinheiro Machado, Prudente, Campos Salles, Rodrigues Alves, Epitácio, Nilo, Bernardes, Pasqualini, Milton Campos, Mangabeira, dezenas e dezenas de outros homens notáveis lá deixaram sinais de seu patriotismo, ilustração e honradez.

Ele difere da Câmara: o deputado é eleito por quatro anos, quando o mandato senatorial é de oito; para ser deputado, exige-se que o candidato conte no mínimo 21 anos, a mesma idade mínima exigida para que alguém possa ser ministro de Estado; já para ser senador, como para ser ministro do STF, o cidadão deve contar 35 anos ou mais; ou seja, a Constituição quer que o Senado seja composto de pessoas de maior experiência de vida e dos negócios públicos; nem foi por acaso que os presidentes do Conselho de Ministros ao tempo do Império, em regra, haviam passado pela Câmara e eram membros do Senado, e que a maioria dos presidentes da República passara pelo Senado e ao Senado voltara depois da Presidência.

Por tudo isso, o que vem acontecendo na Câmara Alta é deplorável; dir-se-ia inacreditável. A tribuna do Senado se converteu em posto de agravos da maior gravidade, e o que é mais chocante, dirigidos pelo então presidente e endereçados à pessoa de seu indigitado sucessor. Mesmo depois da eleição deste, os insultos continuaram. E a Nação assistiu, confrangida, ao inédito espetáculo, o ex-presidente a insultar seu sucessor e este a devolver-lhe os doestos.

Não foi só. Em reunião do então presidente do Senado com três procuradores da República, gravada clandestinamente por um deles, afirmou aquele, não se sabe por que nem para que, conhecer o voto de senadores em determinada sessão secreta, chegando a particularizar o voto de uma senadora, como sendo contrário à orientação de sua bancada; nunca se vira senador algum dizer ao presidente do Senado o que ela disse no plenário daquela Casa. A declaração teve ampla repercussão e fez com que o painel do Senado fosse submetido a perícia sob a responsabilidade da Unicamp. O laudo foi terminante. O painel eletrônico fora violado, e não houve quem questionasse sua conclusão.

A partir daí, a questão começou a tomar outro rumo, pois se ocorrera violação do painel impunha-se saber quem a promovera. Para ser breve, limito-me a lembrar ter sido mencionado o nome do líder do governo na Casa, notório rival do senador cujo mandato fora cassado na sessão secreta de 28 de junho de 2000, e ele não tardou a proferir longo discurso, feito com arte, para negar de maneira categórica qualquer participação no episódio; reconstituiu, quase minuto a minuto, o que fizera na véspera de 28 de junho, onde estivera, com quem falara, onde jantara, afiançando que em nenhum momento estivera com a diretora do Prodasen; no dia seguinte, foi a vez desta graduada funcionária prestar depoimento ao Conselho de Ética do Senado, confessou lisamente a falta cometida e assumiu inteira responsabilidade pelo seu ato; durante cinco horas, foi precisa na exposição e profunda a repercussão do seu depoimento. Não demorou muito e o líder do governo, já então ex-líder, retornou à tribuna e num discurso penoso confessou sua participação na operação que devera ser secreta e nunca revelada, "mesmo sob tortura". Caiu a casa. Não ficou pedra sobre pedra. A cada dia o caso tomava rumo insuspeitado com a revelação de que a verdade nem sempre fora respeitada.

Por fim , depôs o ex-presidente do Senado; n Autor(es)