Nosso Conteúdo

Artigos

Voltar

Linus Pauling: A Ciência Feita com Consciência

por JOHN C. POLANYI em 5/12/2021

Linus Pauling: A Ciência Feita com Consciência

JOHN C. POLANYI

TORONTO - O americano que mais claramente reuniu os conceitos de ciência e consciência foi Linus Pauling. A ciência era sua paixão. Ele não tinha muito o que dizer sobre consciência, pois conversar sobre esse tema teria sido filosofar e a filosofia tinha poucos atrativos para ele. Não era a consciência, mas a consciência em ação, que interessava a Pauling. Seu mundo era do tipo em que conseqüências resultam de ações. Era o tipo de visão robusta que alguém associava ao oeste americano, de onde ele viera.

Isso é uma força e uma fraqueza na tradição americana. Faz as coisas serem feitas. Com muita freqüência, são as coisas certas. Mas um europeu, vivendo (figurativamente) a curta distância de Atenas, vai mais provavelmente adotar a opinião de que a filosofia, admitamo-lo ou não, está na base do que fazemos.

Como eu mesmo tenho raízes na Europa, vejo-me obrigado a refletir sobre o significado das palavras. A primeira é "ciência", que vem, claro, de scientia, conhecimento. Empregamo-la para denotar o conhecimento resultante da observação do mundo exterior. A segunda palavra é "consciência", à qual vinculo ciência. Con-ciência tem a mesma raiz que ciência, mas é o conhecimento que trazemos dentro de nós.

O tipo de conhecimento que chamamos de ciência está inevitavelmente vinculado ao tipo que chamamos de consciência. A razão é que nossas observações do mundo exterior só podem ser transmitidas para um lugar: nossa mente, que abriga a consciência.

Contato - É verdade que, como cientistas, tentamos, no interesse da objetividade, separar esses aspectos de nosso ser; separar o que vemos do que sabemos. Não queremos, a exemplo dos primeiros pintores na Austrália que haviam estudado na Inglaterra, pintar olmos numa paisagem dominada por eucaliptos. Ao mesmo tempo sabemos que, sem nossa bússola interior, não podemos esperar navegar no mundo exterior. Não temos escolha, exceto pôr nossa ciência em contato com nossa consciência.

Com efeito, a ciência é, em si, uma atividade cultural semelhante à pintura.

Um pintor faz um registro da natureza. Também um cientista o faz. Assim agindo, cientista e pintor estão empenhados em fazer declarações sobre o mundo que vêem. O fato de que cientistas na maioria das vezes pintam com símbolos e números não altera isso.

Em sua busca de modelos, cientistas têm esboçado a natureza em tempos recentes de tal modo que transformam a opinião aceita sobre matéria, energia, espaço, vida, morte e universo. Por meio disso eles remodelam o mundo em que vivemos, estendendo e enriquecendo a vida humana e, ao mesmo tempo, fornecendo a maquinaria suprema da morte. Não houve na história passada um renascimento que tenha transformado o mundo de forma tão fundamental e rápida.

Desgaste - Felizmente, a natureza da transformação tem sido o oposto do previsto pelos grandes profetas do século passado: Aldous Huxley e George Orwell. Em vez de o indivíduo se tornar prisioneiro da tecnologia, os tiranos é que estão sendo aprisionados e o povo está ficando livre à medida que, uma após outra, as fronteiras que os dividiam se desgastam. Não se quer com isso dizer que a igualdade e tranqüilidade prevalecem; apenas que a necessidade de ambas nunca foi tão evidente.

Por causa do poder que a ciência tem de mudar nosso mundo, muitos buscam magia nela. Eles chamam a isso de "prova científica" e a julgam inquestionável. Felizmente, para a humanidade, tal coisa não existe. Sempre há espaço para a dúvida. A concretização do consenso é o melhor meio que temos para testar a verdade. E este é o momento em que julgamos que uma proposição científica foi "demonstrada".

A concretização desse consenso é possibilitada pelo fato de que respeitamos não só nossa experiência própria, mas também a dos outros. Chegamos a um aco Autor(es)