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O Evangelho e a justiça

por Gianni Caso. Original: 09/01. em 5/11/2021

O Evangelho e a justiça

Penso que nos apresentamos nestes encontros, após a pausa de verão, tendo todos um pouco na alma o impacto dos últimos dramáticos acontecimentos (11/09/01). Mas estes acontecimentos, que poderiam como primeiro efeito trazer uma escuridão em nossas almas, de fazer vacilar o sentido da existência humana e da convivência entre os homens, se interpretados na sua origem profunda, levam a reforçar a convicção do estreito relacionamento que existe entre todos os homens e na humanidade toda e da necessidade de trabalhar pela fraternidade dos homens e pela justiça, que é o seu fundamento. O tema de hoje, como ouvimos agora, é a Palavra de Deus; em particular, a Palavra de Deus por excelência é Jesus, a Palavra encarnada, e as palavras, anunciadas por Ele, traziam em si a salvação para cada homem e para todos os homens. Nós somos chamados a refletir sobre a relevância que as palavras da salvação, que formam o Evangelho "a Boa Nova, têm, além das nossas vidas particulares, também nas atividades públicas que somos chamados a desenvolver na sociedade e para a sociedade dos homens. Sabemos que todas as "palavras" do Evangelho nos falam do nosso relacionamento com Deus ou com os outros homens. Essas são, portanto, as estrelas que devem guiar o nosso dia a dia. Queremos, hoje, refletir de modo particular sobre por que e como as palavras do Evangelho possam nos ajudar a realizar em plenitude, e segundo as próprias finalidades, o nosso específico agir de operadores da justiça. Pode surpreender que o termo "julgamento" e "justiça" apareçam no Evangelho, mas, é assim. Queremos procurar descobrir o significado que Jesus a elas atribuiu. Quanto ao termo "julgamento", não pode não vir à mente a conhecida descrição do julgamento final. Nos fala o Evangelho de Mateus (cap. 25, 31-46): "Quando Jesus voltar na sua glória e com ele todos os anjos, sentar-se-á em seu trono glorioso e se fará juiz dos bons e dos maus". O que nos diz este anúncio? Antes de tudo, que o julgamento que Jesus fará, será um verdadeiro julgamento das ações dos homens, de cada homem. Podemos encontrar nesta descrição duas afirmações fundamentais. A primeira diz respeito ao critério do julgamento das ações humanas. E com qual critério as ações dos homens serão julgadas? Uma primeira característica é que as ações humanas são avaliadas sempre em confronto ao outro, ao próximo. Catalogar os vários tipos de comportamento nos mostra, de fato, que estes são sempre voltados ao próximo e, precisamente em relação a um próximo que se encontra em uma determinada situação: "tinha fome", "estava nu", "estava enfermo", "estava preso", "era estrangeiro", etc. É, portanto, o próximo que se encontra em situação pessoal na qual a satisfação das suas exigências mais vitais depende do nosso modo de comportar-se em relação a ele. Seremos bons (isto é, justos) se cumprirmos o que a nós pessoalmente é pedido para socorrer as suas necessidades; seremos maus (isto é, injustos) se nos omitirmos. Portanto, a maneira de comportar-nos em relação ao próximo se encontra em qualquer situação de necessidade, qualifica o nosso comportamento e em base a isto seremos julgados. A segunda característica que encontramos no discurso de Jesus é a afirmação do princípio da responsabilidade. Da descrição sobressai claramente que cada um responde pelo que fez (de bom) ou por aquilo que não fez (de bom) ou, com certeza, por aquilo que fez de mal para o seu próximo. O critério de avaliação dos atos humanos e o princípio de responsabilidade, nós sabemos ser dois pontos cardeais do julgamento. Em relação ao termo "justiça", o pensamento vai imediatamente àquela conhecida afirmação de Jesus que encontramos no Evangelho de Mateus (cap. 5,20): "Se a vossa justiça não superar aquela dos escribas e dos fariseus, vós não entrareis no reino dos Céus". Explicam os comentaristas que não se trata da justiça resultante da observação das normas rituais, mas daquela<